Resenha: Nise - O coração da loucura

Foto: Reprodução/Google

Nise da Silveira. Como já diria Chico Buarque: "quem é essa mulher?". Nascida em Alagoas, no dia 05 de fevereiro de 1905, foi uma das mais importantes psiquiatras no Brasil, formou-se em 1926 sendo a única mulher da turma de 157 alunos.

A luta das minorias tem sido assunto amplamente fomentado em nossa contemporaneidade, sendo este filme um transporte midiático sobre uma delas, que passou-se anos atrás, não deixando de ser atemporal, com a temática de inclusão de grupos que são excluídos da sociedade civil, contando a história real da luta da psiquiatra com o tratamento de seus pacientes, ou melhor, seus clientes, como a própria preferia chamá-los. O longa inicia-se no período de 1944, em que Nise retorna sua vida profissional após ser detida durante 15 meses, em 1934, acusada de associação com o comunismo, vivendo clandestinamente nos oito anos que se seguiram.

Ao retornar ao Centro Psiquiátrico Nacional Dom Pedro II, os métodos de tratamento violentos – como lobotomia, choques e agressões físicas – utilizados com os doentes psíquicos assustaram e revoltaram Nise, que recusou trabalhar daquela maneira. Com isso, foi transferida ao setor de terapia ocupacional do local, quando até mesmo seu marido foi contra, alegando que a médica estaria desprezando sua própria carreira.

Gosto de fazer uma intertextualidade com a frase de Javier Velaza, que digo "se nada nos salva da morte, que a arte nos salve da vida". Na essência, o filme "Nise – O coração da loucura", dirigido por Roberto Berliner, nos passa esta mensagem. Após encontrar o setor devastado, a psiquiatra vai contra diversos outros médicos que trabalhavam no local, sendo ela a única mulher do espaço, propondo uma mudança no método utilizado e reforma no cenário em que estava. Com apoio de um colega, Nise faz com que os pacientes conheçam e se desenvolvam através da arte, com pinturas, músicas e esculturas, os mesmos vão mostrando evolução em seus devidos quadros, revelando as sendas do seu "Engenho de Dentro". 

A atriz Gloria Pires, que interpreta a personagem principal, encontra-se dada por inteiro à personagem, deixando o brilho e a indignação da personagem visível até mesmo no olhar. A direção fotográfica e trilha sonora do filme é impecável, dialogando entre si a todo momento. A fotografia, em tons quentes quando o clima é de violência ou tensão e, em tons claros, quando é favorável.

Foto: Reprodução/Google

Ao assistir, lembrei-me do livro Holocausto Brasileiro, da jornalista Daniela Arbex, que dialoga diretamente com o filme, trazendo a mesma temática à tona. Questiono-me, também, quantos artistas não perdemos por serem julgados "loucos". Torna-se imprescindível que a crítica social do filme permeie nos conceitos já arraigados em nossa sociedade, levando-nos sempre à evolução quanto ao assunto.

Outra questão levantada no filme é o machismo, em que a personagem até cita em uma das cenas, além da pressão sofrida por ela no hospício, que era comandado por homens reacionários, no qual percebemos com os olhares dos mesmos quando ela chega ao local da reunião, nas primeiras cenas. Vale salientar que este é outro assunto amplamente discutido nos tempos atuais, nos fazendo perceber que ainda há muito a ser conquistado por nós, mulheres, tendo em vista o tempo em que aquilo aconteceu e o quanto evoluímos até aqui.

Por fim, a obra é, sem dúvidas, um exemplo de como o cinema brasileiro é rico, sendo não só uma biografia de Nise da Silveira, mas, também, um salto que leva o público à reflexão, trazendo a realidade que ainda é vivida por muitos para as telas dos cinemas.

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